De que forma a Empatia e Compreensão pode ajudar em um caso complexo assim? A ideação suicida é um fenômeno complexo que pode ser causado por uma variedade de fatores, incluindo depressão, transtornos de ansiedade, abuso de substâncias e trauma. Quando alguém está passando por ideação suicida, é importante que ele receba ajuda profissional. No entanto, há algumas coisas que você pode fazer como amigo, familiar ou colega para ajudar essa pessoa. Sabemos que a ideia de ajudar alguém que está passando por ideação suicida pode ser assustadora, afinal, lidar com o suicídio é um assunto delicado e complexo. No entanto, é importante lembrar que você não está sozinho e que existem recursos disponíveis para ajudar você a fornecer o apoio de que seu amigo ou familiar precisa.
O primeiro passo é demonstrar empatia e compreensão.
Deixe a pessoa saber que você está lá para ela e que você se importa com ela. Escute-a sem julgamento e tente entender seus sentimentos. É importante lembrar que não há uma resposta certa ou errada para a pergunta “Por que você está pensando em suicídio?”. A pessoa pode estar passando por um momento difícil e não tem todas as respostas. O que ela precisa é de alguém que esteja disposto a ouvi-la e apoiá-la.
Validar os sentimentos.
Nesse momento, é importante que a pessoa se sinta ouvida e compreendida, por isso, diga a ela que você entende que ela esteja passando por um momento difícil e que você acredita nela.
Em seguida, você pode oferecer ajuda prática.
Isso pode incluir coisas como ajudar a pessoa a encontrar um terapeuta ou um psiquiatra, ou a se inscrever em um programa de tratamento. Você também pode oferecer-se para cuidar de tarefas domésticas ou para fazer companhia à pessoa. No entanto, é importante evitar fazer julgamentos ou tentar dar conselhos não solicitados. A pessoa pode se sentir pressionada ou julgada, o que pode piorar a situação.
Se você estiver preocupado com o risco de suicídio da pessoa, é importante procurar ajuda profissional imediatamente. Um terapeuta ou psiquiatra pode avaliar o risco de suicídio e desenvolver um plano de tratamento.
Histórias de Sobreviventes de Suicídio existem, são reais. De fato, a vida pode ser um caminho sinuoso e desafiador, repleto de altos e baixos que muitas vezes nos levam a lugares sombrios e desconhecidos. Às vezes, a escuridão parece envolver nossos corações de tal forma que nos sentimos perdidos, sem esperança e até mesmo sem saída. Nesses momentos, é crucial lembrar que a esperança ainda pode ser encontrada, mesmo nos momentos mais sombrios. Neste artigo, exploraremos histórias de pacientes da nossa clínica, (preservando o sigilo) que enfrentaram ideações e tentativas de suicídio.
1. Joana: A Jornada de Aceitação e Cura
Joana, uma mulher de aproximadamente 30 anos. Aparentava ser feliz, no entanto, por trás do seu sorriso ela escondia uma luta silenciosa contra a depressão. A pressão dos padrões sociais e o medo de decepcionar sua família a levaram a uma tentativa de suicídio.
Felizmente, Joana foi encaminhada para um para nossa clínica, Espaço Terapêutico NOSCO. Ao longo da terapia ela aprendeu a regular suas emoções, praticando a ação oposta, identificar pensamentos automáticos e modificá-los. Além disso ela passou por um tratamento padronizado para depressão, a ativação comportamental somada das técnicas da terapia cognitiva.
A jornada de Joana foi longa e desafiadora, mas ela finalmente encontrou um caminho para fora da depressão e para uma vida que faz sentido.
2. Marcos: Descobrindo a Importância da Comunicação
Marcos, que trabalhava na área de segurança e tinha em torno de 40 anos experimentou uma série de perdas pessoais (fim de relacionamento, por exemplo) e profissionais que o deixaram profundamente desesperançado. Sentindo-se sobrecarregado pela tristeza e pela solidão, ele tentou tirar a própria vida.
Após sua tentativa de suicídio, Marcos foi internado em uma clínica de saúde mental, onde começou a ser atendido por um psicólogo. Durante suas sessões de terapia, ele descobriu a importância de abrir-se sobre seus sentimentos e preocupações. Ele também aprendeu a reconhecer pensamentos autodestrutivos e a substituí-los por pensamentos mais positivos.
Além disso, Marcos se beneficiou do apoio de sua família e amigos, que estiveram ao seu lado durante sua jornada de recuperação. Ele retornou ao trabalho e não possui mais pensamentos de suicídio.
3. Cátia: regulando as emoções
Cátia, uma adolescente de 15 anos que morava com os familiares, enfrentou um trauma sexual que a deixou emocionalmente devastada. Incapaz de lidar com a dor, ela se automutilava diariamente e tentou o suicídio como uma forma de escapar do sofrimento insuportável. Porém, a família percebeu o que estava acontecendo e levou em um psiquiatra que indicou o trabalho da terapia comportamental dialética (DBT) para adolescente.
O processo de psicoterapia levou um tempo para surtir efeito e a parte medicamentosa foi fundamental para ela superar esse momento de vida. Com as habilidades de tolerância ao mal estar e regulação emocional ela conseguiu ter uma vida que vale a pena ser vivida.
Hoje a Cátia está terminando o ensino médio e não tem automutilação e ideação suicida a mais de um ano.
4. Rafael: regulando o humor
Rafael, homem de 23 anos com mudança de humor rápida chega para terapia depois de uma amiga insistir muito em ele procurar ajuda, visto que ele tinha sido atropelado recentemente por não ter olhado para os dois lados da rua, o que configuraria uma tentativa de suicídio passiva.
A primeira etapa do tratamento do Rafael foi um primeiro encontro para avaliação da demanda principal e objetivos secundários. No final dessa avaliação enviamos alguns formulários para o paciente responder e surgiu a hipótese de Transtorno Bipolar do tipo 1. Na sequência foi conduzida uma entrevista diagnóstica com um dos membros da nossa equipe que descartou outros diagnósticos e confirmou o quadro de bipolaridade.
O tratamento do Rafael passou a ser a combinação entre psicoterapia e farmacoterapia. Então, as oscilações de humor, depois de um tempo, reduziram significativamente e o Rafael aprendeu a identificar seus padrões de comportamento que o colocavam em risco.
5. Ana: deixou de ser refém dos pensamentos.
Ana, mulher de 45 anos que trabalha na área do direito penal, sempre lutou com a ansiedade e a depressão, além disso tinha pensamentos que ela catalogava como insuportáveis e os mantinha escondido de qualquer pessoa, inclusive dos antigos psicólogos com quem ela se consultou ao longo da vida. Um dia, no meio de uma crise de pânico, ela não conseguiu mais suportar a dor e tentou o suicídio.
Após sua tentativa de suicídio, Ana procurou no google sobre pensamentos repugnantes e encontrou um vídeo falando sobre TOC de conteúdo sexual.
Ela marcou um primeiro encontro com o Richard e fez uma terapia mais longa com a diferença de que se sentiu compreendida e pode falar sobre seu TOC de conteúdo pedofílico e como isso a assustava. O tratamento envolveu as técnicas para TOC, o tratamento base para depressão e suicídio, além da Terapia de Aceitação e Compromisso.
Ela nunca mais teve tentativas de suicídio e o TOC regrediu. Portanto, ela voltou a ter controle sobre seus pensamentos.
As histórias de Joana, Marcos, Cária , Rafael e Ana são testemunhos poderosos de que a recuperação da tentativa de suicídio é possível. Com a ajuda de tratamento psicológico, apoio de amigos e familiares, e a vontade de enfrentar suas emoções, esses sobreviventes encontraram luz na escuridão.
É importante lembrar que a saúde mental é uma parte fundamental da nossa saúde geral, e buscar ajuda é um sinal de força, não de fraqueza. Se você ou alguém que você conhece estiver lutando com pensamentos suicidas, não hesite em buscar ajuda profissional. Há esperança e ajuda disponíveis, e a jornada da recuperação começa com o primeiro passo em direção à luz.
Lembrando as palavras de Joana, “a vida pode ser difícil, mas é preciosa”. Cada história de recuperação é um lembrete de que a esperança sempre brilha, mesmo nas horas mais sombrias.
O suicídio é uma questão de saúde pública global que permanece silenciosa, mas suas implicações são profundas e impactantes. A realidade é que essa epidemia silenciosa: o suicídio, é uma das principais causas de morte em todo o mundo, especialmente entre os mais jovens, por certo, chegando a ser citada como a segunda maior entre brasileiros de 15 a 29 anos (Estadão, 2021). Outro dado importante é que a taxa global diminuiu 36% nos últimos 20 anos, mas nas Américas está acontecendo o oposto, a taxa aumentou 17% (OPAS/OMS, 2019). Isso é um fator de preocupação para os profissionais de saúde e é um tema do qual nós, equipe da NOSCO, não esquivaremos!
No entanto, por trás dessas estatísticas impressionantes, existe uma história mais complicada que precisa ser melhor investigada e compreendida. Assim sendo, iremos explorar algumas estatisticas sobre o suicídio e como a Psicologia Baseada em Evidências pode nos auxiliar a compreender e combater esse problema de saúde pública.
A epidemiologia é o estudo das doenças e das condições de saúde em populações humanas. Nesse sentido, é através da análise epidemiológica que os cientistas podem identificar os padrões, as causas subjacentes e os fatores de risco relacionados a diversas condições de saúde, incluindo o suicídio. Em síntese, entender essa causalidade auxilia os profissionais de saúde a desenvolver estratégias de prevenção eficazes para os mais diversos contextos.
Segundo dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio: uma em cada 100 mortes. Em outras palavras, isso faz do suicídio uma das principais causas de morte, junto com doenças cardiovasculares, diabetes e problemas respiratórios (CNN, 2022). Outro tema que merece ser evidenciado é justamente essa desvalorização das questões psicológicas, logo que seus sintomas são silenciosos e, muitas vezes, os pacientes sofrem com a estigmatização perante a sociedade e optam por postergar a procura por ajuda.
A epidemiologia do suicídio revela que diversos fatores estão associados a um maior risco de comportamento suicida. Em resumo, estes fatores podem incluir:
Histórico familiar de transtornos mentais;
Isolamento social, ou sentimento de desesperança e desconexão, ou Burnout;
Abuso de substâncias, a saber, álcool e drogas;
Transtornos psicológicos não tratados;
Estressores psicossociais;
Acesso a meios letais, a saber, armas de fogo;
Fatores socioeconômicos, como:
Desemprego;
Situação de vulnerabilidade social(déficits na alimentação e recursos básicos de sobrevivência, como saneamento básico);
Pobreza ou miséria.
No entanto, é importante destacar que os fatores de risco não são determinantes inevitáveis do suicídio, isto é, mesmo em casos onde há vários destes combinados, não significa que a pessoa fará a tentativa. Aliás, existem também os fatores de proteção, tais como uma rede interpessoal forte (família, amigos, comunidade no geral), acesso a cuidados de saúde mental, senso de pertencimento/conectividade no local de trabalho e em ambiantes sociais e habilidades de enfrentamento eficazes frente à situações desafiadoras são alguns dos fatores que podem diminuir o risco de suicídio e fortalecer a resiliência.
As estatísticas variam significativamente entre países, mas algumas tendências se destacam. Por exemplo, o suicídio é mais comum em homens do que em mulheres, com taxas de suicídio masculino aproximadamente três vezes mais altas. Isso não significa que as mulheres não tentam suicídio, na verdade elas tem um maior índice de tentativas, enquanto que os homens, por usarem métodos mais letais, conseguem com maior frequência se matarem. De fato, a idade também desempenha um papel crítico, com uma maior incidência entre os jovens e os idosos. Dessa forma, se você se sente sozinho e tem pensamentos suicidas, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (https://www.cvv.org.br/).
Terapias Baseadas em Evidências: Uma Abordagem Promissora
Quando se trata de prevenir o suicídio, as terapias baseadas em evidências têm se mostrado eficazes. De fato, essas terapias são abordagens de tratamento que foram testadas em estudos clínicos e científicos, demonstrando sua eficácia na redução dos sintomas e no aumento do bem-estar mental. Algumas dessas abordagens são a Terapia Cognitivo Comportamental e as terapias contextuais, como a Dialética Comportamental (DBT).
A psicologia baseada em evidências desenvolve ferramentas e estabelesce itens a serem checados que ajudam os profissionais de saúde mental a identificar indivíduos em risco de suicídio, tais como investigação dos eventos precipitantes específicos para cada paciente, os estressores agudos e crônicos, o estado mental atual(emoção e cognição), se há ou não uma ideia ou plano concreto e a extensão deste.
Um exemplo notável é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que é frequentemente utilizada para tratar uma variedade de condições de saúde mental, a saber, depressão e ansiedade. Além disso, a TCC foca na identificação e modificação de padrões de pensamento negativos e disfuncionais, ajudando os indivíduos a desenvolverem habilidades de enfrentamento saudáveis, trabalhando a iniciativa e a motivação para a mudança comportamental (Marback et al, 2014, Freitas e Sene, 2017, Roskosz et al, 2017).
Nos casos de ideação suicida, trabalhamos para identificação dos pensamentos distorcidos fazendo com que o próprio paciente os reconheça, bem como, elaborando planos de ação para modificar o comportamento que pode ser letal para o paciente. Portanto, é uma terapia prática para aqueles que estão nesse momento de desorientação e desconexão.
Além disso, a Terapia Dialética Comportamental (DBT) também tem se destacado no tratamento de transtornos emocionais, como o transtorno de personalidade borderline, que costuma apresentar autolesão e ideação suicida mais frequentemente. A DBT combina elementos da TCC com estratégias de regulação emocional e aceitação, visando a redução dos comportamentos destrutivos, bem como a construção de habilidades para lidar com as emoções negativas e ajudar o paciente a criar uma vida que vale a pena ser vivida (Linnehan, 2018).
Prevenção do Suicídio: Um Esforço Coletivo
Acima de tudo, a prevenção do suicídio é uma tarefa complexa e multidimensional que requer a colaboração de profissionais de saúde mental, governos, organizações não governamentais e a sociedade como um todo. O estigma em torno da saúde mental ainda é uma barreira significativa para as pessoas buscarem ajuda, por isso é crucial aumentar a conscientização e promover a educação sobre o tema. Você vai encontrar diversos textos sobre o tema aqui no blog na NOSCO e nas nossas redes sociais @espaconosco no Instagram e no Facebook.
Conclusão: Iluminando o Caminho à Frente
A epidemiologia do suicídio nos lembra que essa é uma epidemia silenciosa, mas não invencível. Nesse sentido, compreender os fatores que contribuem para o comportamento suicida é o primeiro passo para a prevenção eficaz. De fato, terapias baseadas em evidências oferecem esperança e tratamento eficaz para aqueles que estão lutando contra condições de saúde mental.
Dessa forma, fica claro que a prevenção do suicídio deve ser feita em multiplos níveis, tanto no individual quanto no coletivo. Em suma, devemos trabalhar juntos para reduzir o estigma em torno da saúde mental, aumentar a conscientização e fornecer acesso adequado a cuidados de saúde mental aos pacientes que precisam. Se você é um deles, entre em contato com a NOSCO para receber a ajuda necessária!
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MARBACK, Roberta Ferrari; PELISOLI, Cátula. Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 122-129, dez. 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872014000200008&lng=pt&nrm=iso>.
Freitas, A. S., & Sene, A. S. (2017). AS CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO MANEJO DO SUICÍDIO. Psicologia E Saúde Em Debate, 3(Supl. 1), 42–43.
Roskosz, F. L. S., Chaves, S. K., & Soczek, K. de L. (2017). SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL. Trabalhos De Conclusão De Curso – Faculdade Sant’Ana. Recuperado de https://iessa.edu.br/revista/index.php/tcc/article/view/96