A Epidemia Silenciosa: Explorando a Epidemiologia do Suicídio no Mundo

O suicídio é uma questão de saúde pública global que permanece silenciosa, mas suas implicações são profundas e impactantes. A realidade é que essa epidemia silenciosa: o suicídio, é uma das principais causas de morte em todo o mundo, especialmente entre os mais jovens, por certo, chegando a ser citada como a segunda maior entre brasileiros de 15 a 29 anos (Estadão, 2021). Outro dado importante é que a taxa global diminuiu 36% nos últimos 20 anos, mas nas Américas está acontecendo o oposto, a taxa aumentou 17% (OPAS/OMS, 2019). Isso é um fator de preocupação para os profissionais de saúde e é um tema do qual nós, equipe da NOSCO, não esquivaremos!
No entanto, por trás dessas estatísticas impressionantes, existe uma história mais complicada que precisa ser melhor investigada e compreendida. Assim sendo, iremos explorar algumas estatisticas sobre o suicídio e como a Psicologia Baseada em Evidências pode nos auxiliar a compreender e combater esse problema de saúde pública.
Epidemiologia do Suicídio: Uma Visão Geral
A epidemiologia é o estudo das doenças e das condições de saúde em populações humanas. Nesse sentido, é através da análise epidemiológica que os cientistas podem identificar os padrões, as causas subjacentes e os fatores de risco relacionados a diversas condições de saúde, incluindo o suicídio. Em síntese, entender essa causalidade auxilia os profissionais de saúde a desenvolver estratégias de prevenção eficazes para os mais diversos contextos.
Segundo dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio: uma em cada 100 mortes. Em outras palavras, isso faz do suicídio uma das principais causas de morte, junto com doenças cardiovasculares, diabetes e problemas respiratórios (CNN, 2022). Outro tema que merece ser evidenciado é justamente essa desvalorização das questões psicológicas, logo que seus sintomas são silenciosos e, muitas vezes, os pacientes sofrem com a estigmatização perante a sociedade e optam por postergar a procura por ajuda.
Fatores de Risco e Proteção: Uma Teia Complexa
A epidemiologia do suicídio revela que diversos fatores estão associados a um maior risco de comportamento suicida. Em resumo, estes fatores podem incluir:
- Histórico familiar de transtornos mentais;
- Isolamento social, ou sentimento de desesperança e desconexão, ou Burnout;
- Abuso de substâncias, a saber, álcool e drogas;
- Transtornos psicológicos não tratados;
- Estressores psicossociais;
- Acesso a meios letais, a saber, armas de fogo;
- Fatores socioeconômicos, como:
- Desemprego;
- Situação de vulnerabilidade social(déficits na alimentação e recursos básicos de sobrevivência, como saneamento básico);
- Pobreza ou miséria.
No entanto, é importante destacar que os fatores de risco não são determinantes inevitáveis do suicídio, isto é, mesmo em casos onde há vários destes combinados, não significa que a pessoa fará a tentativa. Aliás, existem também os fatores de proteção, tais como uma rede interpessoal forte (família, amigos, comunidade no geral), acesso a cuidados de saúde mental, senso de pertencimento/conectividade no local de trabalho e em ambiantes sociais e habilidades de enfrentamento eficazes frente à situações desafiadoras são alguns dos fatores que podem diminuir o risco de suicídio e fortalecer a resiliência.
As estatísticas variam significativamente entre países, mas algumas tendências se destacam. Por exemplo, o suicídio é mais comum em homens do que em mulheres, com taxas de suicídio masculino aproximadamente três vezes mais altas. Isso não significa que as mulheres não tentam suicídio, na verdade elas tem um maior índice de tentativas, enquanto que os homens, por usarem métodos mais letais, conseguem com maior frequência se matarem. De fato, a idade também desempenha um papel crítico, com uma maior incidência entre os jovens e os idosos. Dessa forma, se você se sente sozinho e tem pensamentos suicidas, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (https://www.cvv.org.br/).
Terapias Baseadas em Evidências: Uma Abordagem Promissora
Quando se trata de prevenir o suicídio, as terapias baseadas em evidências têm se mostrado eficazes. De fato, essas terapias são abordagens de tratamento que foram testadas em estudos clínicos e científicos, demonstrando sua eficácia na redução dos sintomas e no aumento do bem-estar mental. Algumas dessas abordagens são a Terapia Cognitivo Comportamental e as terapias contextuais, como a Dialética Comportamental (DBT).
A psicologia baseada em evidências desenvolve ferramentas e estabelesce itens a serem checados que ajudam os profissionais de saúde mental a identificar indivíduos em risco de suicídio, tais como investigação dos eventos precipitantes específicos para cada paciente, os estressores agudos e crônicos, o estado mental atual(emoção e cognição), se há ou não uma ideia ou plano concreto e a extensão deste.
Um exemplo notável é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que é frequentemente utilizada para tratar uma variedade de condições de saúde mental, a saber, depressão e ansiedade. Além disso, a TCC foca na identificação e modificação de padrões de pensamento negativos e disfuncionais, ajudando os indivíduos a desenvolverem habilidades de enfrentamento saudáveis, trabalhando a iniciativa e a motivação para a mudança comportamental (Marback et al, 2014, Freitas e Sene, 2017, Roskosz et al, 2017).
Nos casos de ideação suicida, trabalhamos para identificação dos pensamentos distorcidos fazendo com que o próprio paciente os reconheça, bem como, elaborando planos de ação para modificar o comportamento que pode ser letal para o paciente. Portanto, é uma terapia prática para aqueles que estão nesse momento de desorientação e desconexão.
Além disso, a Terapia Dialética Comportamental (DBT) também tem se destacado no tratamento de transtornos emocionais, como o transtorno de personalidade borderline, que costuma apresentar autolesão e ideação suicida mais frequentemente. A DBT combina elementos da TCC com estratégias de regulação emocional e aceitação, visando a redução dos comportamentos destrutivos, bem como a construção de habilidades para lidar com as emoções negativas e ajudar o paciente a criar uma vida que vale a pena ser vivida (Linnehan, 2018).
Prevenção do Suicídio: Um Esforço Coletivo
Acima de tudo, a prevenção do suicídio é uma tarefa complexa e multidimensional que requer a colaboração de profissionais de saúde mental, governos, organizações não governamentais e a sociedade como um todo. O estigma em torno da saúde mental ainda é uma barreira significativa para as pessoas buscarem ajuda, por isso é crucial aumentar a conscientização e promover a educação sobre o tema. Você vai encontrar diversos textos sobre o tema aqui no blog na NOSCO e nas nossas redes sociais @espaconosco no Instagram e no Facebook.
Conclusão: Iluminando o Caminho à Frente
A epidemiologia do suicídio nos lembra que essa é uma epidemia silenciosa, mas não invencível. Nesse sentido, compreender os fatores que contribuem para o comportamento suicida é o primeiro passo para a prevenção eficaz. De fato, terapias baseadas em evidências oferecem esperança e tratamento eficaz para aqueles que estão lutando contra condições de saúde mental.
Dessa forma, fica claro que a prevenção do suicídio deve ser feita em multiplos níveis, tanto no individual quanto no coletivo. Em suma, devemos trabalhar juntos para reduzir o estigma em torno da saúde mental, aumentar a conscientização e fornecer acesso adequado a cuidados de saúde mental aos pacientes que precisam. Se você é um deles, entre em contato com a NOSCO para receber a ajuda necessária!
Referências:
- World Health Organization (WHO). (2021). Suicide.
- Mann, J. J., Apter, A., Bertolote, J., Beautrais, A., Currier, D., Haas, A., … & Hendin, H. (2005). Suicide prevention strategies: A systematic review. JAMA, 294(16), 2064-2074.
- Hales, R. E., & Lineberry, T. W. (2018). Suicide prevention: Strategies and evidence-based treatments. In Mayo Clinic Proceedings (Vol. 93, No. 4, pp. 550-556).
- Joiner, T. E., & Rudd, M. D. (2000). Intensity and duration of suicidal crises vary as a function of previous suicide attempts and negative life events. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 68(5), 909-916.
- Uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio, revelam estatísticas da OMS. Organização Pan Americana de Saúde. OPAS/OMS. <https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2021-uma-em-cada-100-mortes-ocorre-por-suicidio-revelam-estatisticas-da-oms>
- MARBACK, Roberta Ferrari; PELISOLI, Cátula. Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 122-129, dez. 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872014000200008&lng=pt&nrm=iso>.
- Freitas, A. S., & Sene, A. S. (2017). AS CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO MANEJO DO SUICÍDIO. Psicologia E Saúde Em Debate, 3(Supl. 1), 42–43.
- Roskosz, F. L. S., Chaves, S. K., & Soczek, K. de L. (2017). SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL. Trabalhos De Conclusão De Curso – Faculdade Sant’Ana. Recuperado de https://iessa.edu.br/revista/index.php/tcc/article/view/96
- DELBONI, Carolina. Suicídio é a segunda maior causa de morte entre adolescentes. Estadão. 13 de setembro de 2021. https://www.estadao.com.br/emais/carolina-delboni/suicidio-e-segunda-causa-de-morte-entre-adolescentes/
- ROCHA, Lucas. Doenças não transmissíveis se tornam a principal causa de morte no mundo, diz OMS. CNN Brasil. 21 de setembro de 2022. São Paulo.
- LINEHAN, Marsha M. .Treino de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o terapeuta. Artmed. 2018.